PESQUISA AVALIA "DIA MUNDIAL SEM CARRO" EM SP

Se o objetivo do Dia Mundial sem Carro fosse tirar os automóveis das ruas, poderíamos dizer que ele foi um fracasso. Mas o objetivo foi a conscientização sobre a mobilidade, então ele teve êxito", disse Oded Grajew, um dos idealizadores do Movimento Nossa São Paulo: Outra Cidade, em evento realizado para a divulgação de novos dados sobre mobilidade urbana. Realizada pelo Ibope, por causa do Dia Mundial Sem Carro, a pesquisa ouviu 805 paulistanos, entre os dias 26 de setembro e 1º de outubro. Entre os entrevistados, 62% alegaram não ter usado o carro no sábado (22 de setembro). Esse número, à primeira vista, parece bastante significativo, mas, se analisado com mais cautela, não é tão impactante, pois nele também estão incluídos os 30% da população que não tem carro. Os paulistanos que tinham conhecimento da iniciativa e usam o veículo individual em todos, ou quase todos, os dias (22% dos entrevistados), aderiram bem menos ao movimento. "Apenas 2% 'confessaram' precisar usar o carro, mas mesmo assim não o fizeram", afirma Silvia Cervellini, diretora de atendimento e planejamento do Ibope. Esse valor representa cerca de 27 mil pessoas ou apenas 0,4% da população da capital paulista. "Esse mesmo grupo avalia negativamente vários itens, como a fluidez do trânsito, o tempo gasto para se deslocar e a qualidade do transporte público. Há um nível de criticismo muito grande em relação a isso, mas o sacrifício de deixar o carro em casa ainda não compensa para eles", diz Silvia.

A pesquisa do Ibope também mostra que, se melhorias fossem realizadas em prol da valorização do transporte coletivo e alternativo, como a bicicleta, muita gente (leia-se 75% dos usuários de carro) deixaria o carro na garagem. Mas, essa mudança de hábito só aconteceria realmente com a implantação de mais linhas de ônibus e metrô, a redução do tempo de espera no ponto do ônibus, com mais conforto no transporte coletivo, redução do preço das passagens e a construção de mais ciclovias, por exemplo. Hoje, são cerca de 370 mil ciclistas na cidade de São Paulo. Com a oferta de mais infra-estrutura - hoje, a cidade tem 23 km de ciclovias - e segurança, um milhão de pessoas estaria disposta a usar a bicicleta como meio de transporte. "Tem um campo imenso de mudança de mentalidade e de cultura", afirma Grajew. A frota de São Paulo é de 5,8 milhões de veículos e 635 carros são emplacados por dia. Desses milhões de motoristas, muitos estavam, sim, conscientes da mobilização marcada para o dia 22. "Acho que a divulgação do Dia Mundial Sem Carro foi eficiente, já que 53% dos entrevistados ouviram falar nele", afirma Silvia. Mas, infelizmente, há uma aparente contradição entre adesão e conhecimento. "Temos a cultura do automóvel muito forte e essas mudanças demoram mesmo para serem processadas", afirma Maurício Broinizi, do Movimento Nossa São Paulo.

O Ibope sugere que os paulistanos estão mais conscientes dos problemas que o transporte individual causa na cidade: 67% dos entrevistados sabem que São Paulo é a 6ª cidade mais poluída do mundo e mais da metade sabe que o paulistano vive, em média, um ano e meio de vida a menos por causa da poluição provocada pelos carros. E mais: 20% dos entrevistados disseram estar mais conscientes do grau de dependência que há em relação ao transporte individual. Cerca de 38% dos entrevistados julgam que a iniciativa do Dia Mundial Sem Carro foi boa. Quase metade das pessoas também tinha conhecimento de outros eventos realizados paralelamente pela cidade, nesse mesmo dia, como a bicicletada e a Virada Esportiva. E 47% avaliaram como positiva a iniciativa em relação à poluição do ar, por exemplo. "Se as autoridades prestarem atenção nessa pesquisa, perceberão que há campo favorável para mudar a postura", afirma Grajew, que acredita que nunca houve um trabalho tão intenso de conscientização sobre todos os problemas relacionados à mobilidade. "Graças ao Dia Mundial Sem Carro temos uma representação no Ministério Público [sobre o teor de enxofre do diesel comercializado no Brasil] e um selo de trânsito seguro para as empresas de motofrete", completa ele.

No ano que vem, o dia 22 de setembro cairá numa segunda-feira. Tomara que, até lá, parte das reivindicações pelo transporte público de qualidade sejam atendidas, que o pedestres e ciclistas sejam mais respeitados e que a legislação do trânsito mais efetiva. Só assim, deixar o carro em casa não representará tanto sacrifício e as pessoas poderão optar por começar a semana indo ao trabalho de ônibus, metrô, trem ou bicicleta. (com informações Planeta Sustentável)

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