AQUECIMENTO GLOBAL E O FRIO GAÚCHO

Reportagem explicativa da ZH de domingo.

Enquanto cientistas de todo o mundo debatem propostas para conter o aquecimento global e suas conseqüências catastróficas, a geada castiga Porto Alegre, o município de Bagé, na Campanha, registra a temperatura de julho mais baixa em meio século e flocos de neve branqueiam Buenos Aires - o que não acontecia desde 1918. Contradição? Pelo contrário, asseguram pesquisadores. O inverno poderá registrar recordes de temperatura negativa no futuro devido justamente ao aquecimento global.
- As massas de ar polar são fenômenos característicos do inverno no sul da América Latina há milhares de anos e devem continuar ocorrendo, mesmo em um contexto de aquecimento global - garante Lauro Tadeu Guimarães Fortes, coordenador-geral de Desenvolvimento e Pesquisa do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet). E tem mais. Segundo os especialistas, não só as massas polares continuarão gelando o Rio Grande do Sul como poderão produzir, no futuro, temperatura ainda mais severa.
- É possível que sejam batidos recordes de temperatura mínima - complementa o cientista Carlos Nobre, pesquisador titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
A possibilidade de temperatura ainda mais rigorosa está relacionada à energia existente na atmosfera gerada pelo efeito estufa, que provoca o aquecimento global.
- O efeito estufa aumenta a energia na atmosfera. Com mais energia, os contrastes térmicos devem ser maiores, com massas polares podendo ser mais intensas. Uma analogia pode ser feita com o verão e o inverno. As tempestades no verão, por exemplo, são mais intensas do que no inverno - detalha Nobre, engenheiro eletrônico e doutor em meteorologia pelo renomado MIT (Massachussets Institute of Technology).
Apesar de induzir quedas pontuais da temperatura mínima, o aquecimento da Terra aumenta a média das marcas registradas ao longo de todo inverno. Nos últimos cinco anos, por exemplo, de acordo com um levantamento realizado pelo professor de Climatologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Francisco Eliseu Aquino, os meses de inverno registraram temperatura acima da média histórica. Até 2004, os termômetros ficaram em média entre 0,3 e 0,4 grau acima do normal. Nos últimos dois anos, mais de um grau além dos padrões. O recorde do período ficou com o inverno de 2005: 1,6 grau acima da média.

Previsão é de que situação crie refugiados ambientais
A previsão é de que, cada vez mais, gaúchos irão conviver com massas polares extremas intercaladas por longos períodos de temperaturas amenas.
- O aquecimento global contribui para a existência de irregularidades. Será cada vez mais comum ter dias de calor seguidos por massas polares - afirma Francisco de Assis Diniz, assessor técnico do Inmet.
As alterações climáticas geradas pelo aquecimento global assustam a comunidade científica internacional. Entre as transformações projetadas, estão a existência de milhões de refugiados ambientais, proliferação de furacões, verões escaldantes e transformação de florestas em savanas.
Em maio, propostas para frear o fenômeno provocado especialmente pela ação do homem na natureza foram apresentadas por cientistas ligados ao Painel Intergovernamental sobre Mudanças do Clima (IPCC, em inglês) - criado pela Organização Meteorológica Mundial e pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente para avaliar informações científicas técnicas e socioeconômicas sobre mudanças climáticas.
Entre as sugestões, estão a limitação do tráfego de veículos em determinados horários, o aumento da eficiência das indústrias e o estímulo ao biocombustível.

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